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Transgressão, Liberdade e Arte: O Grafite e Sua Ácida Caminhada

  • Pedro Menezes
  • Jul 16, 2018
  • 4 min read

No coração da maior cidade do Brasil durante a ditadura militar, surgia nas laterais de grandes avenidas desenhos de botas e frangos assados. Alex Vallauri, artista plástico italo-etíope radicado no Brasil, utilizaria o estêncil, um conjunto de moldes vazados com partes ou toda a ilustração a ser estampada. Em meio a Fuscas, Brasílias, Variants e Kombis estava ocorrendo a gênese do grafite no Brasil.

Grafite ou grafito (do italiano graffiti) é o nome dado às inscrições feitas em paredes, um antigo costume romano. Mas além dessa etimologia genérica, o grafite se tornou símbolo de liberdade, identidade e protesto.

As primeiras expressões desse gênero apareceram nos muros de Paris em maio de 1968, no fervo da revolução contra cultural. Mas o ponto mais importante da trajetória inicial do grafite vem de Nova York na década de 70. Um verdadeiro boom ocorreu quando alguns jovens começaram a deixar suas marcas nas paredes da cidade. E o que eram apenas “marcas” evoluiriam com o passar do tempo.

Jaime Prades em 1987 - imagem NETA NOVAES

Com a característica básica de ser um movimento organizado nas artes plásticas, em que o artista cria uma linguagem intencional para interferir na cidade, aproveitando os espaços públicos da mesma para a crítica social, o grafite está conectado diretamente a vários movimentos, principalmente ao Hip Hop. Para esse movimento, o grafite é a forma de expressar toda a opressão que a humanidade vive, principalmente os menos favorecidos, ou seja, o grafite reflete a realidade das ruas.

Não demoraria muito para esse movimento chegar ao Brasil. A febre chegou em território tupiniquim ainda na década de 70, em São Paulo. Mas os brasileiros não se contentariam em apenas copiar o grafite norte-americano. Ou seja, além da arte ser trazida, foi incrementado um toque brasileiro. E essas características seriam futuramente reconhecidas no mundo inteiro.

Iniciado numa época notoriamente conturbada da história, o grafite surge no cenário da metrópole brasileira como uma arte transgressora, a linguagem da rua, da marginalidade, que não pede licença e que grita nas paredes da cidade os incômodos de uma geração silenciada pela censura com a chegada dos militares no poder.

O sociólogo e curador de arte urbana Sérgio Miguel Franco afirma em entrevista à BBC Brasil: "A própria ocupação da rua já era vista como um ato político", enfatizando o caráter transgressor da arte, que, naquela época, com a liberdade de expressão caçada pela ditadura militar, era considerada crime pela legislação nacional.

Para o artista Jaime Prades, que fez parte da primeira geração de grafiteiros, os ''20 anos de censura e isolamento cultural imposto pela ditadura militar fizeram com que os grafiteiros que passaram a ocupar as ruas na década de 1980 se inspirassem na obra dos artistas plásticos da geração dos anos 1960.''

Em algumas obras de Alex Vallauri era possível identificar o lado político do grafite paulistano: como num de seus primeiros desenhos, o "Boca com Alfinete" (1973), uma referência à censura.

Nos anos posteriores, ele encheu os muros da capital de frangos e araras que pediam ''Diretas Já'', o slogan do movimento por eleições diretas no período final da ditadura.

Vallauri influenciou outros artistas a ocuparem as ruas da capital paulista e a data de sua morte - 27 de março de 1987 - é lembrada como o Dia do Grafite no Brasil.

Pra Miguel Franco, os primeiros desenhos que apareceram na capital eram influenciados pelas culturas negra e latina e traziam consigo um traço marginal. "O grafite foi um espelho próspero para a cultura desenvolvida pelos jovens de origem periférica da cidade."

Já para Prades ''o pensamento que alimentava as ações de arte nas ruas era fruto da (nossa) tradição modernista, da anarquia antropofágica, da poética neoconcretista, da irreverência inspiradora de Flavio de Carvalho, Waldemar Cordeiro, Lygia Pape, Lygia Clark, Hélio Oiticica, Artur Barrio, Nelson Leirner, Mira Schendel e muitos outros", conta.

Boca com Alfinete, Alex Vallauri, 1973

Nesse contexto surgia o Tupinãodá, um dos primeiros grupos de artistas grafiteiros do Brasil. Responsáveis pela ocupação do Beco do Batman, na Vila Madalena, escolhiam lugares públicos considerando sua relevância para a cidade de São Paulo. "Evitamos sair por aí pintando nas paredes das casas das pessoas, não fazia sentido. Quando decidíamos pintar, escolhemos espaços públicos de grande impacto urbano", relembra Prades, que era membro do coletivo. "Evitamos sair por aí pintando nas paredes das casas das pessoas, não fazia sentido. Quando decidíamos pintar, escolhemos espaços públicos de grande impacto urbano", afirma.

Assim, os grafiteiros se apropriaram do espaço público a fim de transmitirem mensagens de cunho político, social, cultural, humanitário e, sobretudo, artístico.

A tinta mais usada pelos grafiteiros é o spray em lata. O látex é aplicado sobre máscaras vazadas, para demarcar a região a ser pintada.

A discussão sobre a legalização do grafite a todo tempo permeia a discussão ''grafite x pichação''. De maneira geral, a pichação - ''que costuma trazer frases de protesto ou insultos, assinaturas pessoais ou de gangues - é considerada uma intervenção agressiva e que degrada a paisagem da cidade. O grafite, por sua vez, conseguiu ganhar espaço para ser considerado arte urbana.''

A autorização pelas intervenções na avenida 23 de maio era algo pedido pelos grafiteiros desde a década de 80, mas só autorizado em 2016. Rui Amaral, responsável pelas gravuras do buraco da Avenida Paulista, desenhados ilegalmente em 1989 e legalizados em 1991 durante a gestão de Luiza Erundina afirma: "A avenida 23 de Maio foi o ápice do movimento artístico urbano paulistano".

Primeiro grafite pintado à mão em São Paulo, feito por Rui Amaral em 1982

O grafite em edifícios públicos foi considerado crime ambiental e vandalismo até 2011. A partir daquele ano, somente a pichação seguiu sendo crime. Segundo o sociólogo Alexandre Barbosa Pereira, pesquisador de Antropologia Urbana da Unifesp, ''a dissociação entre grafite e pichação contribuiu para que o grafite começasse a ser aceito, mas apenas como forma de combate ao picho.''

Retratos de uma arte, que mesmo após tantos anos, ainda busca seu reconhecimento, que se assemelha, mas transcende a simbólica etimologia do grafite: o hábito romano ocasional de escrever nas paredes e colunas.

Bibliografia:

www.colegiosaofrancisco.com.br/es.wikipedia.or/iml.jou.ufl.edu

https://googleweblight.com/i?u=https://www.portalsaofrancisco.com.br/arte/grafite&hl=pt-BR

https://googleweblight.com/i?u=https://www.todamateria.com.br/grafite-arte-urbana/&hl=pt-BR

https://googleweblight.com/i?u=https://artimpacto.wordpress.com/a-historia-do-grafite/&hl=pt-BR

https://googleweblight.com/i?u=https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-seculo-20/grafite/&hl=pt-BR

https://googleweblight.com/i?u=https://m.mundoeducacao.bol.uol.com.br/artes/grafite.htm&hl=pt-BR

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-38766202

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